sábado, 24 de abril de 2010

               Ela dorme ao meu lado, tão serena. Sua respiração, baixinha e suave, acaricia meus ombros e me faz setir calmo como nunca. O narizinho delicado dela, junto de sua boca tão bem desenhada, de lábios finos e aveludados, dão um toque incrível, fabuloso àquele momento. Que mulher linda dorme ao meu lado. Que criatura fabulosa descança seus pensamentos em minha cama.
É difícl resistir, e então toco seus lábios com a ponta de meus dedos, tomando cuidado para ser o mais gentil possível, afinal é o mínimo que essa maravilhosa mulher merece. Fecho meus olhos para poder sentir melhor o toque da sua boca; tão macia! Meus dedos a deixam, passando a acariciar meus próprios lábios. É como seu eu pudesse sentir o calor do beijo dela, e isso me emociona de tal maneira, que lágimas brotam no canto de meus olhos. Escorrem devagarinho e alcançam meus ouvidos, o que me entrega uma sensação agoniante e então eu volto a mim. Viro para o lado, dando minhas costas à ela. Assim não fico tentado a beijá-la; beijar genilmente sua testa, a ponta de seu nariz e, finalmente, sua doce boca. Melhor assim, mais seguro. Ela sente minha movimentação, e por reflexo trás de seu corpo junto ao meu, passa seus braços por cima de mim, abraçando-me firme, como quem procura segurança na presença do outro, impedindo-o de ir. Meus olhos demonstram o quanto estou assustado, pois sei que isso era o que eu queria, e no entanto não podia ter. Tento me desvenciliar de seus braços, mas ela os aperta mais forte e me sinto coagido, cercado por uma situação que, embora seja fantástica, só tinha dor e tristeza para me dar. Posso passar a noite toda assim, sentindo a respiração dela no mesmo rítmo que a minha, enquanto suas mãos se deitam sobre as minhas, que estão próximas ao meu peito. Isso é maravilhoso, apaixonante, mas também uma mentira. Não era o abraço da amante que eu tanto desejava, mas sim o abraço de uma mulher entregue ao seu sono, ao desejos de seu subconsciente. Não era a mim que ela abraçava, mas a um homem qualquer que, naquele exato momento, representava algo eu ela desejava, e não era o homem em si. Fico agoniado, pois sei que muita dor virá disso, então sai do abraço dela, de forma abrupta. Sei que ela não merece tamanha violência, mas eu também não mereço tamanha frustração.
               Ela acorda assustada, seus olhos transparecem o quão perdida ela está. Demora alguns bons segundos para que ela entenda a situação, então me sorri um sorriso carinhoso e me ede desculpas. Vira seu comrpo para o outro lado e volta ao seu sono. Suas desculpas me ferem profundamente. Começo a chorar e, por isso, saio da cama e vou para a sala ao lado. Ela havia feito tudo o que eu mais desejava, em minha vida, últimamente. No entato, para ela, não era a mim que ela abraçava, e isso tornou suas desculpas as palavras mais agressivas que eu poderia ter ouvido dela, pois confirmaram o que eu já sabia, mas não queria admitir; ela não me desejava, e sim ao homem dentro dela.
               Sinto meu coração rasgado. Meus olhos ardem de tanto que choro. Minha garganta prestes a explodir por segurar meu pranto, afim de não atormentar o descanço dela.
               Pronto, finalmente mais calmo. Volto para o quarto e me deito, mais uma vez, ao lado dela. Desta vez coloco minha colcha, enrolada, entre nós, e me deito de costas para ela. Agora posso dormir em paz. Será?
               Acordo com ela se levantando. Ela vai ao banheiro e eu levo alguns minutos para acordar de verdade. Sinto um amargo insuportável em minha boca, e meu coração parece pesar toneladas. O amargo eu compreendo, mas o peso no coração me assusta. Olho para o teto e começo a pensar no por quê desta sensação. Minhas memórias vêm de pouco em pouco, revelando meus sonhos e, óbviamente, eles estavam repletos dela. Lembro que ela corria por uma planície coberta por neve, em direção a um lago congelado onde uma mesa a esperava. Eu estava nesta mesa, pronto para jantar com ela naquele estranho lugar, onde o dia cobria a neve, e o luar iluminava o lago, clareando nossos pratos e, como um passe de mágica, ascendendo duas velas que repousavam à mesa. Ela se sentou, olhos fundo em meus olhos, e disse que não podia mais viver sem saber o motivo de tanto vazio em meus olhos sempre que eu estava com ela. O gelo que sustentava minha cadeira quebrou, e eu submergi no lago imenso, frio, solitário e que ficou, segundo a segundo, mais escuro.
               Ela volta à cama, senta-se ao meu lado e me deseja um bom dia. Eu retribuo com outro bom dia e me levanto, indo em direção ao banheiro afim de molhar meu rosto. Olho para o espelho e vejo um homem vazio, perdido dentro de si mesmo. Ao canto do espelho observo-a, pela brecha que deixei na porta, olhando seu celular. Ela sobe seu rosto, olha em meus olhos através do espelho e me presenteia com um sorriso caloroso. Agora tenho certeza que meu dia será um inferno.
               Ela se arruma no meu banheiro e pela porta de vidro mal espelhada, noto as nuâncias do corpo dela enquanto se troca. Que mulher maravilhosa, que criatura divina. Ela canta enquanto se arruma. Cantarola, na verdade. Sua voz chega doce aos meus ouvidos e eu percebo o quanto ela é capaz de influenciar minahs emoções. Está na hora de ela ir embora, e logo!
               Preparo um café da manhã para nós. Ovos mexidos com requeijão e orégano, a metade de um mamão papaya para cada um e um copo de leite com achocolatado. Leite desnatado, pois sei que ela não gosta do integral. Ela agradece pelo café da manhã e diz que tem que ir. Sinto um buraco criar-se dentro de mim. Um vazio absurdo me toma. Disfarço em meu olhar, e finjo um sorriso amigável. Ela cai na mentira e eu abro a porta para ela. Ela pões seu pé para fora e isso me destrói. Me seguro para não cair, arrebatado por uma sensação terminal que parece me dar um violento soco em meu peito. Ela se vira para trás, agradece pela hospitalidade e pela companhia. Me dá um leve beijo no rosto, o que quase me abala por completo, e então e vira e vai embora. Observo-a até que entre no elevador, e quando a porta do mesmo se fecha, caio de joelhos e começo a chorar irremediavelmente. Choro pela dor que sinto e pela que sei que ainda sentirei. Minhas mãos vêm ao meu rosto, cobrindo-o em vergonha. Recomponho-me depois de alguns minutos em prantos, levanto, fecho minha porta e volto para a cama. Pego um forte remédio em meu criado mudo e tomo-o afim de dormir o dia inteiro, que derá até hbernar por meses. Ela se foi mas deixou-me com um último receio. Será que ela estará em meus sonhos, de novo?
               Me viro para o outro lado e reparo, repousado no outro travesseiro, um único fio de cabelo que ela deixou para trás ao lado de uma quase imperceptível mancha do batom dela em minha fronha. Sim, agora tenho certeza que ela voltará aos meus sonhos.

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