quarta-feira, 18 de agosto de 2010



               Em uma jaula fétida, de grades enferrujadas pelas lágrimas descontroladas caidas de seus olhos ensaguentados de tanta dor expressada. Se contorce como um verme na lama, exposto ao sol que o resseca e então o mata. Feridas abertas cobertas por sua própria merda, todas infeccionadas e purulentas. Dentes pretos, podres e despedaçados de tanto mordes as grades que a forçam a ficar com sua cara enterrada em seus dejetos e as secreções de suas doenças. Todas suas unhas arrancadas em uma tentativa de sentir uma dor diferente, menor que sua própria presença traz. Uma a uma foram retiradas de sua carne com o que sobrou de seus dentes podres e suas gengivas inflamadas pelos profundos cortes que nela residem. Seu cabelo seria sua única esperança para sair desta situação se não fossem tão fracos para enforcá-la. Caidos ao seu redor misturados com sua merda e mijo, seu sangue e pus, tudo como uma só massa escrota, nojenta. Ela se alimenta desta massa com a esperança de ganhar forças, esperança que a colocou onde está e que ela é incapaz de negar. Não há mais nada que possa fazer, nada a que possa recorrer. Passará sua eternidade presa aos seus restos podres. Se ao menos pudesse abandonar a esperança, ou melhor, quisesse abandonar a esperança que a afoga em tantas mentiras e ilusões improdutivas.
   Do you want me, dear?
   Well, then purchase me!

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

               Hoje tudo fez sentido. Diferente dos outros dias, todos de razão dúbia e certezas nebulosas, hoje tudo está claro para mim.
               Ao acordar olhei seu rosto ao meu lado. Não havia nada nele, nada! Nenhuma expressão, nada! Sem olhos sem boca, sem nariz nem orelhas. Nada!
               O porteiro, ao me cumprimentar, também não era dono de nada em seu rosto. Apenas uma grande camada de pele, que nem negra, nem branca e nem de qualquer outra cor era, senão cinza e sem textura alguma.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

               Uma vez me disseram que o espaço é a fronteira final. A última conquista que nossa espécie, caso fosse capaz, alcançaria.
               Hoje, agora, neste exato momento onde o tempo e espaço não significam mais nada, eu compreendo que quem me disse isso estava errado. Me vejo sem corpo, perdido em um tempo inexistente, dentro de um espaço também inexistente. Dentro deste buraco negro, percebo que a última fronteira para nossa espécie sempre foi e sempre será nós mesmos. Pois consciente de tudo o que somos, tanto ao que se refere a nossa natureza mas também a nossa constante auto-presumida existência, por sua vez sempre em câmbio, consigo desapegar-me de uma existência física e/ou espiritual, transformando-me em uma existência ideal e perfeita. Enquanto meu corpo e tudo que a ele pertence é esmigalhado pela magnetude do vazio deste buraco negro, percebo-me em uma diferente concepção de existência, na qual existir não é necessariamente ser, o que entendo enquanto me torno a idéia, a qual não necessita da matéria, e ser não é necessariamente existir, o que percebo ao sentir a imensidão do nada que é este gigante titã do esquecimento, e compreendo que meu corpo era menor do que este nada.
               A partir de agora sou nada. Assim sendo, finalmente me torno tudo, sem ser apenas uma suposição de como eu poderia existir, mas existindo sem ser.