domingo, 27 de junho de 2010


               Você sorria para mim. Era o sorriso mais belo com o qual você já havia me presenteado até então.

               Deitada no chão, do meu lado, seu rosto bem perto do meu, e teus olhos dentro de mim. Eram de um castanho muito belo, e sob o sol daquela tarde, se tornram os olhos mais encantadores que já vi. Tão cheios de vida e de alegria, amor e paz. Brilhavam como os meus nunca brilharam, talvez não até aquela tarde. Como você sempre conseguiu penetrar minha alma com os teus olhos, eu não sei. Sentia sua presença bem no fundo da minha alma. Era você quem me fazia lembrar que ela existia e, que dentro de mim, reinava. Mas apenas com a tua presença aconlhendo-a, nunca sem você. Eram os teus olhos que me abriam às tuas vontades, me deixavam a mercê de sua existência como a vida que, em mim, fluia serena e morna. O teu olhar foi um dos mais maravilhosos presentes que o mundo me deu. Os outros, bem, também tinham a sua forma.
               Lembro que toquei teu lábios com os meus, bem devagar, pois lábios omo os teus, delicados, macios, mereciam apenas a gentiliza do toque mais aveludado que eu pudesse lhe entregar. Fiquei aos teus lábios por alguns minutos, nem me mexer, sem nunca meus olhos abrir. Sentia apenas o calor dos teus lábios, o rítmo da tua respiração e, com meus sentidos tão aguçados pela tua presença que em mim fluia, ouvi teu coração bater tão forte quanto o meu. Naquela tarde, me senti a pessoa mais amada do mundo.
               Então vocês tocou meu rosto, e senti o calor dos teus dedos se espalhar por todo meu corpo. Não havia um homem se quer, neste mundo fétido e grotesco, que não se sentiria acolhido pelo seu toque, e eu era o escolhido. Nossos lábios se separaram devagar, nossos olhos se abriram da mesma forma, e voltei a ser invadido pelo teu olhar.
               Fechei meus olhos e gentilmente toquei seu rosto com meus lábios. Primeiro a maça do teu rosto. Depois, sua testa. Então beijei a ponta do teu nariz e logo escorreguei meis lábios para teus olhos, que já estavam fechados e, para minha surpresa, húmidecidos pelas lágrimas que deles escorriam. Experimentei de tuas lágrimas e elas não eram salgadas, mas doces. Levei-as em meus lábios até o canto de sua boca, o qual beijei também e, então, você me tomou em um delicado beijo certeiro. Minhas lágrimas foram as próximas a caírem. Escorreram por minha face até meus lábios que, juntos dos teus, já saboreavam as tuas. Senti o gosto da tua alma e você, mais uma vez, o da minha.
               Era uma tarde gostosa de primavera, um lindo dia vinte e um de Setembro, onde eu desfrutei da tua presença ao meu lado e dentro de mim. A mesma presença que eu nunca tive, nem mesmo naquela acinzentada tarde de chuva, naquele desesperador vinte e um de Setembro.



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